sábado, 22 de março de 2008

abutres

alberto lins caldas


aqui é farto farto de peixe
por isso tanto abutre
vivem tambem dos resto de peixe
pescadores abrem eles inda vivo
batendo bufando gemendom feito gente
tiram deles guelra escama entranha
qnão se come se joga fora
qnão se come inteiro tambem se joga fora
abutres sempre famintos famintos
sempre gordos gordos dessa fartura se fartam
do resto de peixe y de animal mortos
aqui y ali por doença ou acidente
abutres aqui é o lugar deles
quando qualquer coisa morre y aqui tudo morre muito
eles vão y devoram essicheiro de peixe podre
de carne podre vem de todo lugar
vem da gente não vem dos abutres não
eles são limpos basta olhar prasse ver isso
a gente é qé podridão so y não cansa de produzir lixo
lixo produzindo lixo
a gente não presta mesmo não
vive apenas tão pra matar comer
produzir lixo y continuar
matando comendo y produzindo lixo pra nada de nada
alem do peixe y dos bichos morto ao leu tem tambem gado
quando eles chegam ficam na espera
ficam nervoso mugindo mugindo
atraindo abutre q sabem tambem
ai um deles conduz eles pela porta de ferro com vara
afiada de ferro q deve doer demais demais
eles cheiram sangue la na frente
no fim do corredor da fila deles
sangue dos iguais jorrando jorrando
y pegam gritar demais y se empurrar
como querendo fugir no panico
ja vendo pedaços deles mesmos
os la da frente passando por junto
abutres voando voando em volta
y eles saltam como sapos
nagua quente pro riso dos abutre
qabutre ri sim y muito de felicidade
quando chega vez é faca
inteira y longa toda do pescoço
ate quase coração
bicho inda vivo despenca nas pernas
babando sangue mas inda vivente
enquanto rasgam ele tiram couro
ele gritando feito menino novo
y com martelo quebram ossos partem tendões
qisso é muito trabalhoso
é demais bicho não morre logo não
levantam ele pelo traseiro das patas
pro sangue correr escorrer sendo aparado
pra terminar serviço como são pesados
isso mesmo termina de quebrar
muita coisa nas pernas deles
ai eles começam ficar calado
da pra eles tirar resto de dentro deles
em silencio eles so estrebuchando
piscando olhos babando
gemendo baixinho como criança ferida
sem se mover depois qeles arrancam coração
nisso ja tem sangue demais no chão
y da pra ver nele sombra preta dos abutre
voando la em cima girando girando
so esperando esperando
y começa bicho ser dividido
todo separado levado cada parte
prum lugar diferente ficando soa carcaça nua
ate chegar alguem qleva ela
la pros fundos do matadouro
onde abutres esperam todos felizes felizes
abutres nas margens do rio cheio de sangue
escorrendo do matadouro pros peixe
bebendo comendo aquele sangueiro todo
abutres no matadouro
abutres onde morre qualquer bicho
porisso pra quem não pesca
não come peixe
pra quem não tem gado nenhum
não mata gado não come carne
resta somente aqui
pra esse iguais mim abutres
qé queu como gostando ou não
como muito como todo dia
qde gostar ja nem sei se gosto ou não
mas seme restam esses abutre
gordos de peixe de bichos y de gado
sou feliz durmo bem vou vivendo
assim gordo também eu abutres
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conto do livro
"gorgonas", companhia editora de pernambuco, recife, 2008.

Um comentário:

Andréia disse...

gostei. Convém falar sobre o "nojento", o podre, a carniça.
Abraço Alberto.