sábado, 22 de março de 2008

eberhart

alberto lins caldas

naum se distinguia qualquer coza. gente podre
espalhada. fedeno. gente de longe. gente de perto.
gente ingual percevejo. dimais. cor di terra. cor di
misera. gado amontoado. xafurdano. eu ele junto.
calado. discreto. diferente no meio da manada.
sentado. cada um com seu pedasso sosomente.
intragavel de calor. sem riso sem palavra sem
afeto. ate qdi silencios a gente tava safogando.
alastrados. y comessou conversa. nada. como
sempre. pra nada dizer. mas ele tava ino pra lugar
ninhum. sem pouso. sem ninguem. qeu pior
digo pensano. por dentro y da lingua pra fora.
eu na vida so aquela maleta. naum por vicio. por
ser assim. ele y eu rino disso tambem. rir
é bom pra misera. pros maleficio. pras ninaria.
rir passa tempo. adormece ate fome. solidaum.
calor. mas doidos pra q tudo findasse. por mim
tava calado. naum me dou me com ninguem.
se pudesse antes de morrer arrumava jeito de matar
todo mundo pra discansar desses inseto antes
da morte. ele calado tava y ficou. vivo como
caum pustulento. eu q naum fugisse. tava morto.
antes longe. antes apartado. agora sopro falar
por falar. lingua fica mofada. cancerosa. com
tempo de tanto nunca naum se falar lingua mofa.
fica paralisada. podre. como si fosse cair. tanto
ele quanto eu agora sgarrava nas palavra. essas q
resta depois de tudo. todos pensa qtou duente.
duente duente uma porra. duente taum eles isso
sim. se bem q naum possa dizer q duente duente
naum teja. porq tudo é duença. é ruim. tou voltano.
dipois de tudo. voltano. como se naum tivesse
partido. mundo virou contra mim. contra. quanto
isso naum minto naum q sem duvida sou culpado
se culpa existe. !sim: vida. vida sim. ?como ser
diferente. minha vida. ?como ter sido diferente.
quem é naum deixa de ser. quem naum é naum
se torna. nisso naum tem culpa. se taum contra
mim é porq fui quem sou. nem mais nem menos.
tratado antes com muita carne. verduras. sopas de
couve verde. frutas. leite. legumes. tudo fresco.
paum. bolos. doces. biscoitos. porisso sempre
muito corado. gordo. de bem. !sim. feliz. sempre
do bem pro bem. !bem. sem olhares. sem riso naum.
depois sifoi dinheiro. foi tempo pelas rua.
completamente doidos. vagando comogado. solto.
caes viviam perseguino. tudo passa. do mal pro bem.
ate essa viagem acaba. ?num é mesmo.
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conto do livro
"gorgonas", companhia editora de pernambuco, recife, 2008.

abutres

alberto lins caldas


aqui é farto farto de peixe
por isso tanto abutre
vivem tambem dos resto de peixe
pescadores abrem eles inda vivo
batendo bufando gemendom feito gente
tiram deles guelra escama entranha
qnão se come se joga fora
qnão se come inteiro tambem se joga fora
abutres sempre famintos famintos
sempre gordos gordos dessa fartura se fartam
do resto de peixe y de animal mortos
aqui y ali por doença ou acidente
abutres aqui é o lugar deles
quando qualquer coisa morre y aqui tudo morre muito
eles vão y devoram essicheiro de peixe podre
de carne podre vem de todo lugar
vem da gente não vem dos abutres não
eles são limpos basta olhar prasse ver isso
a gente é qé podridão so y não cansa de produzir lixo
lixo produzindo lixo
a gente não presta mesmo não
vive apenas tão pra matar comer
produzir lixo y continuar
matando comendo y produzindo lixo pra nada de nada
alem do peixe y dos bichos morto ao leu tem tambem gado
quando eles chegam ficam na espera
ficam nervoso mugindo mugindo
atraindo abutre q sabem tambem
ai um deles conduz eles pela porta de ferro com vara
afiada de ferro q deve doer demais demais
eles cheiram sangue la na frente
no fim do corredor da fila deles
sangue dos iguais jorrando jorrando
y pegam gritar demais y se empurrar
como querendo fugir no panico
ja vendo pedaços deles mesmos
os la da frente passando por junto
abutres voando voando em volta
y eles saltam como sapos
nagua quente pro riso dos abutre
qabutre ri sim y muito de felicidade
quando chega vez é faca
inteira y longa toda do pescoço
ate quase coração
bicho inda vivo despenca nas pernas
babando sangue mas inda vivente
enquanto rasgam ele tiram couro
ele gritando feito menino novo
y com martelo quebram ossos partem tendões
qisso é muito trabalhoso
é demais bicho não morre logo não
levantam ele pelo traseiro das patas
pro sangue correr escorrer sendo aparado
pra terminar serviço como são pesados
isso mesmo termina de quebrar
muita coisa nas pernas deles
ai eles começam ficar calado
da pra eles tirar resto de dentro deles
em silencio eles so estrebuchando
piscando olhos babando
gemendo baixinho como criança ferida
sem se mover depois qeles arrancam coração
nisso ja tem sangue demais no chão
y da pra ver nele sombra preta dos abutre
voando la em cima girando girando
so esperando esperando
y começa bicho ser dividido
todo separado levado cada parte
prum lugar diferente ficando soa carcaça nua
ate chegar alguem qleva ela
la pros fundos do matadouro
onde abutres esperam todos felizes felizes
abutres nas margens do rio cheio de sangue
escorrendo do matadouro pros peixe
bebendo comendo aquele sangueiro todo
abutres no matadouro
abutres onde morre qualquer bicho
porisso pra quem não pesca
não come peixe
pra quem não tem gado nenhum
não mata gado não come carne
resta somente aqui
pra esse iguais mim abutres
qé queu como gostando ou não
como muito como todo dia
qde gostar ja nem sei se gosto ou não
mas seme restam esses abutre
gordos de peixe de bichos y de gado
sou feliz durmo bem vou vivendo
assim gordo também eu abutres
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conto do livro
"gorgonas", companhia editora de pernambuco, recife, 2008.

bal

alberto lins caldas

dizem qessa guerra naum existe. ?naum existe
como. naum existindo. como se fosse doidice
da gente. ?quer dizer qa gente ta inventando
tudo. isso mesmo. como sonho doido. eu vc
a gente aqui fudidos ate os ossos melados de
lama de merda de mijo de catarro y de sangue
y é tudo doidice. !assim mesmo. tem gente
ate q diz qa vida é assim tambem assim. ?quem
diz isso é vc. !eu não. !vaite fuder. so digo
o q dizem. falar mais é besteira. ?diz
pra passsar o tempo naum é mesmo. mais
ou menos. espie a dor por exemplo. ?q q tem
a dor. preste atenssaum. a dor naum doi. ?naum
doi ta doido. digo y repito q dor nenhuma
doi. sei q vc me acha uma besta mas explique.
naum sei se consigo explicar naum. ?entaum
fala isso pra q. ?pra passar o tempo. ?quer coisa
melhor q fazer passar o tempo. ficar dormente.
paralisado. como bicho ibernando dentro do
baba dele mesmo. gosma dura pra proteger ele.
assim. sei é quessa noite naum passa. essa noite
é a vida toda. so isso. a vida é uma treva so

?ja notou como tudo qa gente bebe tudo qa gente
come ficou amargo. é sua boca. naum pode ser
naum. !vem agora vc dizer o qeu sinto ou naum
sinto. !naum falta mais nada. é porq vc naum sente
mais o amargo. ele ja faz parte de vc. vc nem
notou quando principiou a amargar. !é naum. é
porq naum tem guerra nenhuma. eu sabia q vc era
uma besta agora tenho certeza qé doido. !olhe a
guerra. ?q guerra. q coisa nenhuma de guerra.
isso é somente a vida. doido y burro. ?então
pra qessa arma. essa fumaça. aquilo ali em
pilhado ?é lixo é. parece lixo mas naum é
lixo. é gente morta. gente igualzinho a gente.
estrassalhada mas gente. amontoada mas gente.
se naum é vai la remexer. se naum levar
uma bala no meio da cara vai ver. seu levar uma
bala no meio da cara naum vou ver nada. y ai naum
tem guerra mesmo. nem pros vivos nem pros mortos.

tamos aqui tem tempo demais. ?isso importa. naum
muito naum. muito pouco vc quer dizer isso sim.
!tanto faz como tanto fez. tambem não é assim.
!é assim é isso mesmo. ?q importa se tamos aqui
ou ali antes ou depois. se a gente pode dizer é
porqisso deve significar alguma coisa. ?y se não
significa nada. ?muda alguma coisa. mudar mudar
não muda naum mas a gente deve acreditar q muda.
?por q. sa gente não acreditar em algo em qualquer
coisa a gente termina como aquele gato afogado.
?lembra. naum sei como a conversa chegou no
gato afogado. chegou porq chegou. o q quero
dizer. ?y por qnão diz logo. ?por qa gente deve
dizer logo porqa conversa fica dessa maneira.
naum sei mais nem o qa gente tava conversando.
vc é certinho demais demais. !eu não. o certinho aqui
sempre foi vc. ?mas agora quer saber sobre gato
afogado naum é. não deixo de querer desquerendo.
!explique. querendo porq querendo y desquerendo
porq desquerendo. isso é coisa de burro empacado.
eu não. o burro aqui sempre foi vc. ?eu. !eu não. olhe
pra vc y veja seu é quem não sou o mais mais daqui.
?mais mais por q. tamos os dois aqui y vc me vem
com mais essa. olha pra vc olhe pra mim. so
posso olhar um de cada vez. olhar vc ou me olhar.
?q conversa é essa. olha pra mim. ?ta olhando.
tou. ?qé q ta vendo. !vc. ?pode ver tudo não pode.
posso y se rodar posso ver mais. agora olhe para
vc. tou olhando. ?ta vendo o q. eu. eu não q vc ta
vendo é uns pedaços de vc y uns pedaços de mim.
y naum pode mais qisso naum. assim como
eu. isso é conversa fiada. fiada não. afiada.
pode ir me pagando qeu ensinei uma coisa q
vc não sabia. ?y quem disse qeu naum sabia.
vc mesmo. ?eu. !é. se soubesse sabia desde o
começo y naum ia ficar conversando
comigo feito besta naum.

!é guerra sim. !é. !naum é. !é. !é naum. ?naum
ta vendo qnaum é. vendo vendo tou naum. é mesmo.
vendo vendo a gente naum ta. ?entaum y a guerra.
?como a guerra. se naum é guerra é paz. a gente
ta em paz. ?mas a gente naum so vive em guerra.
?quem disse. ?quem naum disse. sei qa gente
anda. y para de quando em vezes. dez mil
vezes parou. dez mil vezes andou. andou andou
andou. parou parou parou. !entaum tamos em
guerra. se naum fosse guerra a gente tava sempre
parado. !em paz. !é. em paz. ?y se a gente tiver em
guerra pensando qta em paz. !naum. entaum tamos
em guerra. mas isso naum tem fim. se tivesse a gente
parava. sempre em guerra sempre em paz. isso agonia
um qualquer. é porisso qa gente naum para. nem
pode parar. se parar a gente entra em paz. acho qse
a gente parar entra em guerra. entaum a gente ta
rodando. dando volta. posso ate imaginar. um cercado
de penedos uma lagoa no meio y nas margens nossa
comida a comida de sempre y esse caminho batido
pela gente. em tantas guerras y tantas pazes. ?isso naum
é terrivel. !é nada. isso é bom demais. !é mesmo. a gente
naum ia saber viver diferente. a gente é uma
merda. uma merda mesmo. uma merda y tanto.

naum sou surdo. y eu naum sou mudo. ?mas sera
qa gente é cego. a gente pode fazer uma experiencia.
?qual. eu aponto uma coisa y vc diz o qé. ?mas seu
naum souber o nome. entaum vc é somente burro.
?y se vc somente apontar sem tambem saber.
burro tambem. assim a gente so sabe se é ou
naum burro. ?qual a diferença entre a burrice
y a cegueira. é porq o burro naum sabe se é
cego ou burro. entaum a gente é burro.
mas se a gente fosse burro naum ia saber isso.
entaum a gente é cego. mas se a gente é cego
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conto do livro
"gorgonas", companhia editora de pernambuco, recife, 2008.